18 de jun. de 2012

Em outros tempos

Hoje, olhei pela janela da cozinha e avistei uma linha de pipa enroscada na mexeriqueira, cruzando o quintal acima da minha cabeça. O pensamento me ocorreu tão natural quanto o ato de respirar: em outros tempo eu correria para o quintal, pegaria um bambu, puxaria deixando-a espalhada por todo o quintal e minha velha lata de linha ganharia mais alguns nós e mais alguns metros. No dia seguinte, iria para a rua aproveitar as férias e empinar pipa em meio a todos os garotos da rua, pois eu nunca fui muito normal, e brincar de boneca nunca foi minha primeira opção. Um simples pedaço de linha me fez pensar em tantas outras coisas... Pensar que em outros tempos, férias significavam ficar na rua até mais tarde pulando corda, jogando queimada, brincando de esconde-esconde, sendo criança. Aah, que saudade de apenas ser criança. Em outros tempos eu pensaria menos no futuro, não me preocuparia tanto com o impacto das minhas atitudes na vida das outras pessoas, seria menos desconfiada, acreditaria mais na humanidade, nas pessoas, nos sentimentos. Certamente passaria menos tempo triste. Em outros tempos eu seria mais livre, todavia, seria menos eu. Mas hoje, os "meus outros tempos" passaram, e quem está no quintal espalhando toda aquela linha é meu primo. Hoje ele faz treze anos. É uma linda idade. Talvez daqui há cinco ou seis anos ele olhe pela janela da cozinha, veja uma linha cruzando o quintal, dê as costas e comece a pensar: Em outros tempos eu correria para o quintal... Mas então, ele saberá, assim como eu, que chegou a vez de outros (provavelmente suas irmãs) viverem esses bons tempos.